domingo, 14 de agosto de 2011

Educação Infantil - O Brinquedo Sucata




{#}Boneco feito de tampinha de refrigerante, garrafa de amaciante e fita adesiva colorida.

"A arte de criar e recriar, revela o meu potencial, promove o meu auto conhecimento, me estimula, favorecendo minhas relações de forma cultural e social, assim minhas ações são valorizadas e compartilhadas com os outros. É uma grande satisfação dar forma a um objeto com criatividade transmitindo emoções, seja por um desenho, uma confecção de um objeto, para uso pessoal ou de terceiros é muito gratificante e motivador".

Veja Alguns Textos que fundamentam essa idéia.

{#}O brinquedo-sucata trás atributos para o desenvolvimento dos aspectos cognitivos e das relações socioculturais da criança, propõe-se a fazer uma reflexão acerca da contribuição do brinquedo-sucata como instrumento que favorece o desenvolvimento do pensamento da criança.

{#}Os autores que fundamentam essa discussão são: BENJAMIN (1984), MACHADO (1995), WEISS (1997), despertam para a importância da criança criar seu próprio brinquedo e sugerem situações de aprendizagem que muitas vezes articulam recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança.

{#}Com o brinquedo-sucata, a criança pode exercitar sua criatividade ao confeccioná-lo e desenvolver sua interação social num espaço lúdico com materiais atraentes e educativos de baixo custo.

{#}Na visão de BENJAMIN (1984), as crianças são especialmente inclinadas a buscarem em todo local de trabalho, objetos de sua atenção e de sua ação, em que a atuação sobre as coisas se dê de forma visível.

{#}Conforme esse autor, nos restos que sobram dos destroços do trabalho dos adultos, as crianças reconhecem o rosto que o mundo das coisas apresenta para elas, a partir dos mais diferentes materiais, através daquilo que criam em suas brincadeiras, formando assim o seu próprio mundo de coisas dando asas a imaginação de forma interativa e criativa.

{#}MACHADO (1995, p. 27) afirma que:

Antes mesmo de operacionalizar a construção do brinquedo-sucata, as crianças observam as características físicas dos materiais, pois sendo estes de diversas origens, obter novas formas implica em perceber nos brinquedos a essência dessa transformação, conduzindo a uma compreensão maior do brinquedo e do universo infantil.

Poder transformar, dar novas formas a materiais como quiser, propicia à criança instrumentos para crescimento mais saudável, que a estimule a explorar o mundo de dentro e o mundo de fora, dando a eles nova forma, no presente e no futuro, a partir de sua vivência.

{#}A sucata nesse caso é um material de transformação dos dois mundos, que permite a liberdade para arriscar, buscar suas próprias soluções, dando maior oportunidade de ampliação de horizontes, transformando-se num aprendizado de vida.

{#}Para melhor entendimento do termo sucata, MACHADO (1995) o define como qualquer coisa que perdeu seu uso original, que não serve mais, ou que não tem mais significado. Por outro lado, CUNHA (1994) o conceitua como um material descartável que não tem utilidade, podendo ser aproveitado com um pouco de criatividade.

{#}O brinquedo-sucata, WEISS (1997) o denomina como objeto construído artesanalmente, com diversos materiais como madeira, lata, borracha, papelão, arame e outros recursos extraídos do cotidiano. É o resultado de um trabalho de transformação e de reaproveitamento do lixo, considerado por muitos como grande vilão do meio ambiente. É elemento de redefinição de um objeto como processo de construção eclética do brinquedo.

{#}MACHADO (1995) vê que inicialmente a sucata traz consigo o elemento da transformação: é algo que passa a ser usado fora de sua rotina, além de ser um brinquedo não estruturado em que é preciso haver ação da própria criança para que a brincadeira se concretize. Ou seja, a sucata antes de ser elaborada e depois de haver sido usada é um material muito rico, mas que depende da ação da criança para que se torne um brinquedo.

{#}A respeito do que venha a ser brinquedo, SANTOS (1999) o entende como suporte e material da brincadeira que estimula a representação, a expressão de imagens, ao mesmo tempo que evoca aspectos da realidade vivida pela criança.

{#}Vê-se com isso, que o brinquedo revela-se como um importante mecanismo para o desenvolvimento da criança, provocando formas de modificação do seu comportamento, associadas ao efeito do brincar.

{#}Desse modo, BENJAMIN (1984, p. 93) ressalta que:

...o espírito do qual descendem os produtos, o processo total de sua produção e não apenas seu resultado está sempre presente para a criança no brinquedo; é natural que ela compreenda melhor um objeto produzido por técnicas primitivas do que com outro que se origina de um método industrial complicado.

{#}O autor valoriza a construção total do brinquedo, pois a criança ao olhar, abrir e até quebrar, deseja muitas vezes saber como foi feito, qual a engenhoca utilizada, pois é dessa forma que ela consegue estabelecer uma relação viva com as coisas, e isso é muitas vezes o que mais importa na brincadeira.

{#}Conforme RODRIGUES apud SANTOS (1995, p. 4):

A função dos jogos e dos brinquedos não se limita ao mundo das emoções e da sensibilidade; ela aparece ativa também no domínio da inteligência e coopera, em linhas decisivas, para a evolução do pensamento e de todas as funções mentais superiores. Assume também uma função social, e esse fato faz com que as atividades lúdicas extravasem sua importância para além do indivíduo.

{#}Do ponto de vista da criatividade, tanto o ato de brincar como o ato criativo estão centrados na busca do “eu”. É uma busca constante para descobrir algo novo. É no brincar que se pode ser criativo e é no criar que se brinca com as imagens, símbolos e signos, fazendo uso do próprio potencial livre e integral. Brincando ou sendo criativo o indivíduo descobre quem realmente é. Diante disso, confirma-se que a busca do “eu” se dá através do ato de brincar e do ato de criar e vice-versa. Através da busca do novo, o sujeito pode brincar com sua imaginação e, assim, as condições favoráveis ao ato de brincar assemelham-se ao ato de criar.

{#}Em se tratando da criatividade, a função principal de brincar é atualizar a capacidade humana de criatividade intelectual, pois no brinquedo, a criança possui o prazer de descobrir e a satisfação de criar.

{#}O brinquedo-sucata traz consigo a energia criativa, a possibilidade do novo e do original, surge da própria criança que por princípio escolheu os objetos, os materiais e elaborou regras, para lidar com o mundo a sua maneira, fazendo dessa forma suas próprias descobertas. Tudo isso sendo conduzido por um adulto, respeitando seu imaginário, para que a criança não tenha medo de ousar, de fantasiar, de errar e de viver criativamente.

{#}O processo de criação começa já no recolhimento da sucata pelos alunos, quando o seu olhar recorta o objeto da realidade e, em seguida, o transforma em outro, usando sua seletividade, imaginação, fantasia, desejos, habilidades, enfim, ressignificando a realidade.

{#}Nesse momento a atuação do professor é de extrema importância para auxiliar o aluno, permitindo vivências e construções progressivas das diversas áreas do conhecimento através de jogos e brinquedos elaborados a partir da criatividade do aluno.

{#}Quanto à transformação do objeto, o pensamento de WEISS (1997) é de que ao recolher sucatas, a criança descobre objetos possíveis de serem transformados, desenvolvendo, dessa forma um diálogo constante com o universo de objetos que a cerca.

{#}A brincadeira favorece a auto-estima das crianças, auxiliando-as a construir progressivamente suas aquisições de forma criativa. Uma das vantagens do brinquedo feito com a sucata em relação ao industrial é a sua fabricação, o que por si só é uma brincadeira, assim a brincadeira com sucata só pode acontecer com a ação da própria criança, contando com a colaboração do professor.

{#}De acordo com MACHADO (1995, p. 45):

O brinquedo-sucata permite a quem brinca com ele, desvendá-lo, ressignificá-lo, pois é um objeto que possui inúmeros significados que não são óbvios, nem estão evidentes. Surgem assim, novas e inusitadas relações que podem ser absurdas, incongruentes, desregradas.

{#}Visto isso; cada escola, turma, alunos e/ou professores deve montar seu próprio sucatário, mas o que importa mesmo é que cada objeto seja limpo e não ofereça riscos para a saúde das crianças e que ,sobretudo, não deixe o ambiente com cara de lixão. Há inúmeros critérios para fazer a coleta de materiais para a arrumação do sucatário, como por tamanho, forma, cor, material. A própria captação e separação das sucatas pode ser um trabalho prazeroso e um momento nos quais o professor pode aproveitar para desenvolver a formação de conceitos.

{#}O uso desses brinquedos confeccionados pelas crianças favorece ludicamente, o desenvolvimento de esquemas operativos e perceptivos interessantes, que se dão durante o processo de aprendizagem.

{#}Além da sucata contribuir para um desenvolvimento lúdico em sala de aula, uma vez que facilita a aprendizagem, é também fator relevante para o processo de socialização, através da comunicação e da expressão da criança. Além disso, como já foi abordado, o uso do brinquedo-sucata na sala de aula é importante por incentivar a criatividade, oportunizando o manuseio de diversos tipos de material sucateado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENJAMIN, Walter. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. Tradução de Marcus Vinicius Mazzari. São Paulo: Summus, 1984. (Novas buscas em educação, v. 17).

CUNHA, Nilse Helena Silva. Brinquedo, desafio e descoberta: subsídios para utilização e confecção de brinquedos. Rio de Janeiro: FAE, 1994.

FRIEDMANN, Adriana Brincar: crescer e aprender – o resgate do jogo infantil. São Paulo: Moderna, 1996.

LEONTIEV, Alexis N. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Horizonte Universitário, 1978.

MACHADO, Marina Marcondes. O brinquedo-sucata e a criança: a importância do brincar - Atividades e materiais. 2 ed. São Paulo: Ed. Loyola, 1995.

SANTOS, Santa Marli Pires dos. Brinquedo e infância: um guia para pais e educadores em creche. Petrópolis/RJ: Vozes, 1999.

"Grandes realizações não são feitas por impulso, mas por uma soma de pequenas realizações." Vincent Van Gogh